Com um avanço cada vez maior na proporção de idosos na população mundial e, por que não, na população brasileira devemos estar atentos às particularidades a que esta crescente fatia da sociedade esta sujeita. Assim, há também particularidades a serem consideradas em relação às variações de temperatura ambiental dentro do contexto desta população, visando a prevenção de desfechos desfavoráveis.
Primeiramente, faz-se necessário ressaltar algumas alterações próprias do envelhecimento. O idoso reage diferente do jovem quando colocado numa situação de variação da temperatura ambiental.
O envelhecimento está associado a uma menor taxa metabólica e a uma disfunção da regulação da temperatura corpórea. Isso é proporcionalmente relacionado à fragilidade daquele idoso e a sua quantidade de massa magra (musculatura). Com uma água corporal total menor do que a do jovem, o idoso também encontra-se sujeito a sofrer mais facilmente uma variação na temperatura corpórea.
Ocorre que, devido a uma disfunção autonômica, a vasoconstrição reacional ao frio está prejudicada no idoso e portanto, há uma menor habilidade em se reter calor. Além disso, uma vez sob a situação de hipotermia (temperatura corpórea inferior a 35º C), os tremores que um idoso apresenta são menos intensos, limitando por sua vez a capacidade de gerar calor. Ocorre também, uma redução da sensibilidade térmica da pele, necessitando de um estimulo mais intenso (uma temperatura mais fria) ou mais prolongado e isso fará com que se inicie uma resposta mais tardia a um estímulo de frio.
Em suma, o que ocorre para se chegar a uma condição de hipotermia, é uma somatória da perda excessiva de calor (por fatores ambientais) mais a proteção inadequada ao frio, não somente a física como cobertores e aquecedores, mas a intrínseca, relacionada à própria fragilidade do idoso.
A apresentação pode variar desde tremores, pele pálida e taquicardia, quando numa hipotermia leve (35 a32º C) a até uma perda de consciência e arritmias em casos de uma hipotermia grave (temperatura abaixo de 28º C).
Somam-se aos fatores de risco inerentes ao envelhecimento, as condições gerais daquele individuo, podendo torná-lo mais ou menos susceptível a um evento desfavorável. Assim, além da supracitada perda muscular, doenças comuns em indivíduos mais idosos como as alterações cognitivas (doença de Alzheimer por exemplo), limitações físicas por qualquer causa, doenças que afetem a sensibilidade como o diabetes e as deficiências vitamínicas, o abuso de substâncias (com destaque para o álcool) e o uso de medicamentos, colocam o paciente sob um risco maior de problemas relacionados ao frio.
A prevenção é sempre a melhor forma de atuação e nesse sentido, o simples reconhecimento de um risco já é um grande avanço. De uma forma geral, a atividade física voltada para o fortalecimento muscular, exerce um grande fator protetor sobre os idosos, uma vez que proporciona um aumento da taxa metabólica, com maior capacidade de produção de calor, além de se tratar de um tecido que apresenta mais água do que o tecido gorduroso, sendo este ultimo mais abundante proporcionalmente nos idosos. Paralelamente, estes indivíduos com maior musculatura são também mais funcionais e aptos a se autogerirem acarretando num fator indireto de proteção contra a fragilidade e desfechos desfavoráveis como os decorrentes das variações de temperatura.
Para os idosos frágeis (dependentes), os que irão apresentar diversos fatores de risco para desfechos desfavoráveis, e também para os que vivem sozinhos, recomenda-se também uma atenção redobrada. Deve-se encorajar esses idosos e seus cuidadores a, além de estarem bem acompanhados e monitorados (com bons cuidados de saúde e uma relação próxima com seu médico), utilizar fontes externas de calor, se antecipando a sensação de frio que pode ocorrer de forma tardia.
Como estamos falando de uma população que é extremamente vulnerável, até as fontes externas de calor devem ser utilizadas com bastante critério. O uso de roupas para frio, o uso de aquecedores, o uso de lareiras e o uso de banhos quentes também deve ser motivo de atenção. Como foi falado, a sensibilidade ao calor também encontra-se reduzida pelo próprio envelhecimento e pelas doenças que o paciente pode apresentar. Assim, não é incomum a ocorrência de queimaduras por exposição a fontes externas de calor e, para os usuários de oxigênio domiciliar, até a ocorrência de incêndios relacionados ao uso do fogo (em lareiras).
Apesar de as mortes acidentais relacionados a hipotermia serem estatisticamente incomuns, a população idosa é afetada de maneira desproporcional. Vale lembrar também que com o aumento na proporção dos idosos na população geral, a quantidade de pessoas sob risco aumenta sensivelmente e ainda ressalta-se que estamos falando de fatalidades absolutamente evitáveis.
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