Transplante de fezes tem 95% de chance de sucesso dentro de 24h
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É isso mesmo: o transplante de fezes é exatamente usar fezes de terceiros para curar um tipo de diarreia causado por uma bactéria difícil de ser eliminada, a clostridium difficile. O tema segue como assuntos de pesquisas científicas, mas já é realidade em alguns hospitais de referência. No Brasil, o Hospital Albert Einstein já realizou dois procedimentos com sucesso.
O gastroenterologista e cirurgião do Hospital Samaritano, Victor Yokana, conta que para fazer o transplante é necessário pegar fezes de 3 pessoas saudáveis – normalmente da família –, colocar em um liquidificador com soro fisiológico, bater para liquidificar e separar cerca de 15 ml do líquido malcheiroso para injetar no paciente.
Há dois meios de as fezes alheias entrarem no organismo: via colonoscopia, pelo ânus, ou endoscópica, pela boca. Quando é pela boca, a sonda é inserida e o cano chega até o intestino, onde o líquido é injetado. Não há contato com o estômago, felizmente. “Assim ninguém fica com o desconforto de pensar que está bebendo fezes”, diverte-se o médico.
O resultado desse procedimento inusitado aparece em menos de 24h. 95% dos pacientes que, por esse meio tratam infecções intestinais difíceis causadas pela clostridium difficile melhoram em menos de um dia. É nojento, mas promissor.
Para a ciência, esse número é fantástico. “É difícil achar, dentro da medicina, essa proporção”, diz Paulo Camiz, clínico geral e geriatra do Hospital das Clínicas de São Paulo, que participou dos dois transplantes que aconteceram no Hospital Albert Einstein.
A maléfica c. difficile habita o intestino de muita gente sem causar dano algum. Com ela há outros trilhões de bactérias benéficas (existem mais bactérias no intestino do que células no corpo). O problema acontece quando há um desequilíbrio nessa flora intestinal, em que as bactérias boas morrem e a c. difficile se multiplica e toma conta de tudo.
Isso pode acontecer pelo uso de antibióticos para qualquer fim, que podem matar as bactérias benéficas e deixar o organismo à mercê daquelas mais resistentes. Atualmente, há apenas um remédio que é usado para tratar essa diarreia persistente, mas as taxas de sucesso não são altas. Como no intestino fica apenas a c. difficile, mesmo quando elas são mortas, o intestino fica desprotegido e sem flora bacteriana, e, insistente do jeito que é, na ausência de boas bactérias a c. difficile acaba reinfectando o organismo.
Camiz explica que o mais correto seria chamar o procedimento de transplante de bactérias, pois são elas as importantes por repovoar o intestino e devolver o equilíbrio da flora. Segundo ele, 90% do cocô é composto por bactérias.
Nos Estados Unidos há uma pesquisa com fezes em cápsulas – para ser ingerida e se tornar menos desconfortável do que uma endoscopia ou colonoscopia, que exige sedação ou até mesmo anestesia. A cápsula seria como um remédio qualquer, com a diferença de ser resistente aos ácidos do estômago, só abrindo no intestino – onde é o lugar das fezes.
“Vai ser o procedimento mais barato de todos eles, pois fezes tem de monte”, brinca o cirurgião do Hospital Samaritano.
Já Camiz se empolga com as possibilidades de estudos das bactérias do intestino. “O que acho interessante nem é somente a questão da clostridium difficile, pois este é apenas um dos possíveis benefícios, é uma questão pequena perto do potencial que essas bactérias podem trazer de benefícios para o ser humano”, completa o geriatra e clínico-geral do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Matéria publicada no Minha Saúde IG
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