Matéria com Dr. Paulo Camiz publicada no Estadão: Suplementação de vitaminas
Um dos assuntos mais controversos da medicina moderna é a suplementação de vitaminas e minerais em pessoas saudáveis. A constante busca por uma vida mais longa e saudável costuma motivar o consumo desses produtos.
Todo mundo quer melhorar o que já tem, mesmo que o que se tenha seja considerado uma boa saúde. Sem entrar no mérito das evidências científicas: duvido que algum entre todos dos leitores deste texto nunca tenha tomado algum tipo de complemento vitamínico ou alimentar. Prescrito ou não pelo médico, recomendado por algum conhecido, ou sugerido por uma pressão midiática ou da indústria farmacêutica.
Não há uma evidência clara quanto ao benefício da suplementação em pessoas saudáveis
Não há como escapar. Ingressar numa rede de farmácias dos Estados Unidos, ou mesmo no Brasil, é certeza de se deparar com no mínimo um corredor inteiro só com essa classe de produtos. E se ainda não o convenci, caro leitor, da importância do assunto, que tal alguns números? Estamos falando de uma indústria de receita anual de mais de 20 bilhões de dólares apenas nos Estados Unidos.
Cada uma das vitaminas seria tema para um texto inteiro, mas é importante reforçar que, para a grande maioria delas, não há uma evidência clara quanto ao benefício da suplementação em pessoas saudáveis. Por isso, em vez de discorrer sobre quem é saudável e não necessita de suplementaçnao, prefiro definir quem pode vir a sofrer de uma carência vitamínica que mereça uma eventual suplementação. A seguir:
As gestantes têm benefício comprovado na suplementação de ácido fólico e ferro, que diminuem o risco de má formação fetal e de anemia, respectivamente.
Não pela idade em si, mas pela prevalência maior de doenças e de uso de medicações que afetam a absorção vitamínica e menor exposição ao sol, pessoas nessa faixa etária podem se beneficiar de uma investigação quanto a carência de vitamina B12 e vitamina D.
Pessoas que sofrem de doenças intestinais, que passaram por cirurgias para tratar a obesidade ou que sofrem de problemas nutricionais devido a hábitos de vida, como o etilismo ou dietas muito restritivas merecem uma atenção especial e podem ter carência de diversos minerais e vitaminas.
Pessoas que sofrem de hepatite gordurosa (a inflamação causada pela “gordura no fígado) podem se beneficiar da suplementação de vitamina E.
De qualquer forma, é importante ressaltar que as informações listadas acima referem-se a pessoas portadoras de doenças e que merecem tratamentos específicos de acordo. O que é curioso é o argumento da grande maioria dos usuários de suplementos diante da informação relacionada às baixas necessidades diárias e de que uma dieta razoável já as contemplaria. “Se não fizer bem, pelo menos mal não faz…” Apenas para dar um contraponto científico, sem entrar no mérito de que se não fizer bem pode estar fazendo mal para as economias do paciente (sim, vitaminas são caras). Há muitas controvérsias a essa afirmação. Estudo já mostraram, por exemplo, que grupos que tomavam regularmente complexos vitamínicos tinham uma mortalidade cardiovascular ligeiramente maior do que o grupo que não tomava.
O que já é sabido e comprovado, também listado a seguir:
Realmente, a manifestação de uma hipervitaminose A é gravíssima e vale a pena o leitor saber a composição do que está ingerindo principalmente quanto a este componente. O sintoma principal é a “hipertensão intracraniana” ou “pseudo-tumor cerebral”, cujos sintomas são cefaléia de forte intensidade, náuseas e vômitos.
A vitamina sintetizada pelo próprio corpo humano quando há exposição solar e tem poucas fontes alimentares, mostra-se numa epidemia de carência. A conclusão é que as pessoas tomam cada vez menos sol. Muitos leitores tiveram a experiência de na infância tomarem óleo de fígado de bacalhau. O alimento que descobriram que curava o raquitismo (doença do desenvolvimento ósseo na infância), nos países nórdicos que tem invernos prolongados e escuros. Para os ossos a evidência do benefício é clara.
A cada aula de congresso médico dos mais variados temas, aparecem mais e mais citações falando a seu favor e dos benefícios nos mais diversos sistemas e não só no osso. Mito ou milagre? Muitos se perguntam. Pode ser que tudo mude nos anos que estão por vir como aconteceu e acontece na medicina, mas a perspectiva de que os benefícios da suplementação de vitamina D estejam muito além do osso é bastante plausível. Entre suplementar e tomar sol, o último nasceu para todos e de forma gratuita. Num país tropical como o Brasil, acaba saindo mais barato, desde que fora dos horários de pico para não lesar a pele.
A vitamina B12 é também um tema amplo na medicina, um assunto que já rendeu três prêmios Nobel. Sua necessidade envolve a produção de DNA, ou seja, fundamental para todas as células do corpo humano. Sua carência pode se manifestar mais comumente com anemia e disfunções neurológicas, entre elas alterações de memória. Uma série de medicações e de condições médicas pode afetar sua absorção. Ainda que seu estoque no corpo dure 5 anos, sua deficiência é vista com certa freqüência na população idosa.
Além de causar constipação intestinal, tomar cálcio, ainda que beneficie os ossos, pode resultar num aumento de problemas circulatórios. A idéia disso é que uma dose alta de cálcio não iria se depositar apenas nos ossos, onde gostaríamos, mas também nas paredes das artérias, o que as tornaria mais rígidas.
Ainda que se pudesse falar sobre uma série de suplementos a conclusão é a que todos deveriam supor. Mesmo para essas suplementações é mais do que recomendada a abordagem da necessidade e das indicações com um profissional qualificado. Tire as suas dúvidas antes de fazer qualquer tratamento por conta própria. Fica a pergunta: incluímos ou não essas suplementações entre os hábitos de vida saudáveis? Salvo populações com fatores de risco ou doenças específicas, a controvérsia ainda existe.
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Paulo Camiz é professor, clínico geral e geriatra da Universidade de São Paulo e do Hospital das Clínicas de São Paulo
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